quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009


MEU TEMPO PRESENTE
(O amor do agora)

Quero o amor do agora que caiba no espaço e no tempo...

Tenho pressa de viver o instante presente
Estar deliberadamente preso ao tempo presente
Fazer do agora um eterno presente.

Tenho pressa de viver intensamente
Como o andarilho em andar simplesmente
Meu porto é o teu corpo
Ilhas cercadas de sentimentos amenos.

Navego em velas atiçadas pelo vento
E vou ao encontro de mim mesmo, te encontrando
Posto que estás em toda parte
No espaço, no mar, no chão, no ventre das noites.

Quero viver este instante presente
Porque nele me vejo completamente
Me vejo neste instante eternamente.

Márcio Carvalho
Fortaleza, 14/08/2008.

BUSCA

Perdido em versos eu me acho
Escrever é ver o que está escondido em mim
É sentir-se livre, embora preso nas dobras das lembranças.

Tantos rios, ribanceiras, águas que se foram sobre lençóis de ouro
Tantos versos velozes: enchentes que secaram os meus olhos
Hoje vejo somente o que restou de nós: remendos de ti...

Exercito em cada segundo um século da minha vida
Projeto imagens penduradas nos varais dos tempos
E percebo que tudo passa como uma sombra que foge da luz.

Num curto espaço de tempo ouço gritos em tempestades
E me lanço num frenesi de heranças fatais
E tudo descamba num mais profundo silêncio: morro!

Márcio Carvalho
Fortaleza, 16/06/2008.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009


SONETO DO AMOR TOTAL

Deixa eu te olhar profundamente
Beber no teu pensamento
Deixá-lo fluir no meu íntimo
Como vento em uma noite cansada.

Deixa os teus olhos aquecerem minha tez
Que nem botões em uma noite enluarada
Brotando sonhos e sensações
Colorindo uma primavera aguardada.

Deixa-me eu ser apenas teu
Ser o teu habitável ser
Construir muros, ser teu abrigo.

Deixa-me alvorecer em ti
Conduzir teus dúbios passos
Até a estação que mora em mim.


Fortaleza, 16 de janeiro de 2009.

POEMA PARA TI
(Poema da ternura)

Em ti repouso o meu último olhar
Em ti sou sombra em alto mar
Em ti o perigo não fim
E o perigo sem ti não mora em mim.

Sou chave em porta entreaberta
Sou horizonte visto da janela
Sou o que nunca me alcançou
Sou da tempestade o que restou.

Sou passos lentos, lendo o caminho
Aberto com as mãos do destino...

Fiz de mim tua eterna morada
Construída com raios de ternura
Aquecida pela luz do luar!


(Fortaleza, 12 de outubro de 2008.)

AMO-TE

Amo-te de todas as formas
E mesmo se não as existissem
Inventaria uma de te amar.

Amo-te como um amor
Que não cabe num poema
Nem num infinito de linhas
E que não cabe numa vida inteira
Mas que cabe em mim.

Amo-te mesmo sem ter você.
Amo-te mesmo que passe mil anos,
Mesmo que seja no esquecimento
Do teu lembrar.
Já amei em muitas vozes
Agora amo em silêncio
O amor dos poetas...

Encontro-te na solidão das noites,
Encontro-te na luz dos dias
E me abrigo no sorriso do teu olhar.
E vivo intensamente
Um amor que prescinde de ti
Por ser demais belo
E por não caber em si.
Amo-te...


Márcio Raimundo
Fortaleza, 05 de maio de 2008.

O AMOR

Procura-se o amor
Dentro de um sorriso...
Num vasto jardim
Ou no interior de uma flor.

Procura-se o amor
Que vaze o sentimento
Revelado pela alma
Num instante milenar.

Procuro o amor
Às margens de mim.
Intenciono o amor
Para dentro de mim.

Mas o amor achou portas...

Pelo olhar de uma janela
Procura-se o amor.

Procura-se um amor
Que caiba num poema
Procuro um amor
Que caiba em mim.

Ele que sempre esteve
Tão próximo...

Por onde andará o amor?


Márcio Carvalho
21/04/2008, Fortaleza-CE

NOSTALGIA NO OLHAR

O sol se despede por trás da linha do olhar
A noite com seus longos braços me acolhe
É mais um dia que se instaura na memória
E adormeço inebriado pela fagueira brisa de lá.

Saudosos tempos, remotos pensamentos
Que margeiam meu cenário atual.
Quantas doçuras bebi daquelas nascentes
Que deslizavam sobre o corpo dos rochedos.

Sei que a lembrança me embala, mas dói
Mundos resvalam em meus frágeis dedos
Sei que o peso do tempo enterrou meu olhar.

Linhas paralelas em um árduo chão
Traçam e mitigam o meu caminhar
Neste sertão/mar que me faz sonhar...


Fortaleza, 29 de julho de 2007.

TARDE NO OLHAR

A tarde cai lenta e silenciosa
Um boi solitariamente mastiga a tarde
Imagens fluem, alísios cobrem a noite serena.
E adormeço inebriado pela fagueira brisa de lá.

O arrebol vespertino e suas cores
Contrastam com o meu mundo atual.
O terreiro, a meninada, o futebol, a “pedra alta”
Ditam a dimensão exata dessa saudade.

Sei que a lembrança me embala, mas dói
Mundos resvalam em meus frágeis dedos
Sei que o peso do tempo enterrou meu olhar.

Quisera reter em meus dedos o tempo
Fazê-lo eterno em cada palmo do olhar
Preservando imagens de entes queridos.

27/28 de setembro de 2007

TARDE SERTANEJA

Deito o meu longo olhar nas paisagens siderais
Um boi solitariamente mastiga a tarde
Imagens fluem, alísios cobrem a noite serena.
São traços vertentes de uma cena rural.

Saudosos tempos, remotos pensamentos
Contrastam com o meu mundo atual.
O terreiro, a meninada, o futebol, a “pedra alta”
Ditam a dimensão exata dessa saudade. (05/08/2007)

Sei que os anos me carregam friamente
Mas sei que a alma se mantém integralmente
Não envelhece e conserva o meu olhar.

Quisera reter em meus dedos o tempo
Fazê-lo eterno em cada palmo do olhar
Preservando imagens sopradas pelo vento.

27/28 de setembro de 2007

A CHUVA CAI

Lá fora a chuva cai
Paisagens siderais silenciam-se
Para ouvir a melodia das águas.

Lá fora a brisa sopra
O vento tira a chuva pra dançar
Os dois dançam no ar.

Beija-flores se agitam em seus ninhos
Pássaros soltam seus silfos fresquinhos
Para a chuva não parar de dançar.

Bem-te-vis cantam festivos
As árvores se movem de alegria
E em múltiplas formas canta a natureza.

Olhares se lançam contemplativos
Pessoas unem-se num caminhar
Para escalar um discreto arco-íris.

Tudo transcende na mais perfeita harmonia
A natureza se transforma em poesia
Nesta ditosa chuva apoteótica e divina.

Márcio e Saboia
Fortaleza, 26 de fevereiro e 01 de março de 2008



ESCRITOS NA AREIA

Escrevo para aliviar a dor
Escrevo para aumentar a dor
Ou simplesmente viver.

São escritos feito à faca
Escritos com marcas de ferro
Ilegíveis, no corpo do chão.

Escrevo para descrever a saudade,
Alcançar o impossível
“Na dança infrene da memória”.

Escrevo sons na areia
(palavras se perdem nos ventos)

Escrevo o que deixei de escrever
Escrevo a minha história
(metaforizada)
Traçada com açoites
Espelhada em cada grão de areia
Ressequida neste chão.


SAL, em 03 de janeiro de 2008.

SENTIMENTOS

Sinto você em cada vão momento
Sinto você em cada vão da saudade
Sinto você
Até quando não sinto falta de ninguém.

Sua presença é férrea
Sua ausência é um trem
Levando saudades.

Ouço o apito da aurora
Nas linhas infindas das memórias
Que carregam os sonhos
Pra bem longe daqui.

“Sinto que é noite”
Sinto o grito preso,
Calado dentro de mim.
Sinto pouco sangue
Nas veias do tempo
“Sinto que é noite nos ventos”
Sinto que você
Já não mora mais em mim.

(Fortaleza, 08/12/2007,às 00h)

PONTE DA SAUDADE

Dentro de um sol poente eu te vejo
Quando a tarde parecia não ter fim
Você me fez crer que ainda existia
Razão para eu poder estar ali.

E existia, ali, razão para sentir
Tua alma...
Tua imagem vasta
Que nem o mar
Que, imponente, a minha frente
Bramia com suas ondas
Palavras fortes de amor...

Você estava lá, abraçada com o sol,
Segurando os últimos raios da tarde.
Eu ainda te via, tênue, fragilmente,
Resistindo, querendo ficar.

Mas de repente tudo se foi
Ficando apenas a linha imaginária do olhar.
Ano de 2007

OLHOS DA NOITE

O vento sussurra brandamente pelas frestas do telhado
E a lua, num grande sorriso, ilumina os segredos da noite.
Imerso nesse brilho lunar, desperta o pirilampo
Acendendo o meu aguçado e nativo olhar poético.

Sinto imagens que povoam o instigante mundo do sertão
O cantarolar insistente de uma infinita grilarada
Nuvens que assaltam o espaço,
Luzes que se insurgem no meio da floresta:
Medo, conjecturas perfazem noite adentro.

Quem nunca adormeceu acalentado pela pulsante brisa sertaneja
Quem nunca presenciou as intermitentes luzes de vagalumes
Quem nunca bebeu de tantas fontes naturais

Desconhece uma outra realidade, a mim tão particular
E não sabe dimensionar o quanto de amor trago comigo
Embebido de sonhos, de luzes e de prazeres virginais.

Márcio Raimundo
Fortaleza, abril de 2008.
GOTAS EM MIM

Gotas de chuva
Cristais do tempo
Pingos que ribombam
No interior de mim.

O cheiro da chuva
A canção da chuva
Me faz sentir
A vida inteira em mim.

É madrugada
Tudo se dissolve aqui
Intacta apenas
As lembranças
Que se abrigam no tempo
E que deságuam em mim.

Agora a chuva cai
Mais tenra
Querendo se despedir
De mim.

Já é tarde
Já é noite
Vou dormir
Deitar as lembranças
Cuidar de mim...

E lá fora
Escorre
Dolorosamente a vida!


Fortaleza, 29 de abril de 2008.
Às 01h20min
VOCÊ

Você bateu em mim
Com ímpetos de água que se liberta
Silenciosamente sonora
Você desaguou em mim.

Você chegou assim
Sorrateiramente
História aquecida em sonhos...
Em vias paralelas
Pela mão do destino.

E eu me apeguei a ti
Como o sol que se apega a terra
Deitando seus raios sobre o chão
Para a humanidade caminhar em luz.
PONTOS DE LUZ
(Crônica poética)

Vejo no topo dos prédios
Luzes solitárias
Luzes que salvam vidas
Luzes que iluminam
As vidas
De anônimas pessoas.

Quem diria?
Apenas uma luzinha
Cotidianamente normal
Mas tecnicamente pensada,
Instalada nas torres
E nos arranha-céus,
Me faria ousar
Escrever uma poesia!

Fortaleza, 30/03/2008.
SOPROS DIVINAIS

Em meio a mil tormentas
Eu te vejo espelhada (imune) lá.
E me vejo ainda com esperanças
De te alcançar.

Em meio a mil pensamentos
Só penso em ti
Em meio a mil sentimentos
Só sinto você
Em meio...

Eles pesam...
E fazem moradas em meu coração.

Estou à beira de ti
Precipício que me atrai.
Estou às margens de ti...
Estou onde você pousa o teu olhar!

Estou na linha do horizonte
E de lá posso ver o arrebol
Mais lindo do mundo: você!

Você é assim,
Um sonho que se refaz
Um arco-íris que lança o seu arco
E dentro dele eu me vejo.

Você é pura luz
Estrela que cede seu brilho
A outras estrelas
Você é a estrela-guia dos olhares meus!

(Márcio Carvalho, 25 de março de 2008)
A JANELA

A janela já não é a mesma
E um colibri de saudades
Enfeita as tardes...
Tardes que já não são mais minhas.

Hoje, a janela gradeada
Aprisiona o meu olhar
E os meus olhos não vêem
O que eu tento enxergar...

A seta que indica à esquerda
Não me acena mais
E a espera é longa demais...

Da janela
Pode-se ver quase tudo.
Na janela
Eu ouvi tudo.

Linda e melancólica janela!


(In-memoriam)
BEIJOS DE AÇOITE

Ó deusa, foste do canto a primazia
De versos a poesia
Que fugazmente passou.

Escritos com beijos de açoite
Fez de dia a noite
E nem a lua ficou.

Hoje, adormecido em prantos
Sonho e não me encontro
Estou perdido a viver.

Quase nada me fascina
Vivo preso em cada esquina
Vendo o tempo correr.

Nada me traz a vida
Vou cicatrizando as feridas
Vou cicatrizando o viver.

Como um ébrio tresloucado
Louco, meio cansado
"De escárnio e de espinhos."
SONETO SERTANEJO

A tarde nublada tremia de frio e de trovoadas
Riscos de luz anunciavam a invernada
Animais e pessoas em comunhão com a natureza
E a obra divina se desenhava fértil de beleza.

O sertão é assim, felicidade se insurge em segundos
O canto sonoro se ouve em vários mundos
No barreiro bem próximo coaxam os sapinhos
E a floresta orvalhada enche-se de sons afinadinhos.

É a festança dos pássaros em suas cantilenas
É a vida jorrando em espelhos cristalinos
Nos riachos risonhos onde dançam os meninos.

Ali se plantam sonhos eternos em cada segundo
Ali todos crescem felizes em seus mundos
Regidos de amores, de vidas e de poemas.
RENASCENÇA

Eflúvios de amor renascem
Numa disparada intrépida e veloz
Mas o medo arma seu cerco
E num frenesi freia o tempo.

Tudo se acomoda em sonhos
Sonhos podem ser reais
Disfarçam a vontade patente
Que se aproxima da minha alma.

Vislumbro, em ti, mais que encanto
Reminiscências que marcam o instante
Outrora, intensamente vivido.

Paixão recorrente de infâncias
Prenda-me nas tuas lembranças
Faze-me presente o passado e o porvir!

Márcio,
Fortaleza 06/03/2008.
OLHAR DE SAUDADE

Guardo-te a sete chaves
Na minha alma de homem
E de poeta.

Guardo-te, presa, livre,
Navegante em mim.
Guardo-te, assim como guardo
Os primeiros raios da aurora
Na tez de uma manhã calada...
Depois de tantas palavras...

Guardo-te, ó cintilante estrela,
Como o jardineiro que alimenta
Uma flor pendida ao val...

E fico a debulhar lembranças,
Procurando alcançar sonhos
No arranha-céu
Sem olhos para mim.
CAÇADOR DE BORBOLETAS

O dia nublado tremia frio e silencioso
Ao redor da inesquecível “Casa Velha”.
Na parede que sustentava o telhado
Via uma casa de borboletas...
Era mais uma lagarta no seu casulo
Era mais uma luz que se abria para o mundo.

Lembro bem da minha infância
A construção daquela cena
Quando me deparava com este ser
Que ali se abrigava, comodamente,
Para ganhar uma tal sonhada liberdade
Depois de cumprida sua metamorfose vital.

Contava os dias, avidamente
Para o seu lindo despertar
E eu me maravilhava no terreiro
(época de intensa invernada)
Naquele florido vergel
-Vigilante de um bando de borboletas a voar.

Hoje sou ainda um caçador de borboletas
À procura do meu tempo
-Passado que se instaurou na memória!
Caço tantas coisas que mudaram seu rumo...
Mas caço, principalmente, o menino
Que um dia se aportou em mim!


Fortaleza, fevereiro de 2008.
VENTOS QUE SE CALAM

Os ventos que trazem os sonhos
São os mesmos que os dissipam.
Os ventos que passam na minha janela
Seguem calados
Sem nenhuma razão pra passar
Não acalentam os meus sonhos
Só me trazem saudades...

Neste chão não há mais razão pra pisar
Desisto de tudo.
Até os ventos que nada tinham pra falar
Mudaram de rumo.

Restou-me a frieza da noite
Sem rios, sem ventos, sem luar.


Márcio,
Fortaleza, 10/02/2008, às 00:05
DESENCANTO ESTELAR
(Conspiração das nuvens)

Nas horas mortas da noite
Vejo uma imensidão de estrelas a me olhar.
O que dirão elas de tudo aqui?
O que dirão elas de mim?

E se as estrelas não existissem?
Se a lua não existisse?
O que teriam a dizer os poetas?
Os trovadores?

Neste matutar poético
Atravesso a solidão da noite
Cheia. Nua. Vazia.

Dou meia volta sobre o mesmo passo
E as estrelas que antes olhavam para mim
Imutáveis, paradas...
Pasmem
Jazem agora escondidas sobre um tapete de algodão
Que se avolumam no espaço.

As estrelas morreram para mim...?


Márcio,
Fortaleza, 08/02/2008, às 00:50
CANSAÇO

Acho que cheguei ao fim
Do começo de uma real ilusão.
Acho que atingi o limite
De algo que não tem fim...

Cansei de tudo um pouco
Cansei até de mim!
Cansei de sonhar
Os sonhos moram fora daqui.
E os meus sonhos vivem
Em naves espaciais.

E agora, o que fazer?
Se não quero ou não posso sonhar?
Será que os sonhos vão deixar de existir?
Será que os sonhos fogem de mim?

Só sei que o cansaço me laçou
Antes de o sonho chegar.
E agora, o que fazer?
E se a vida não me esperar?
E se o chão que eu piso
De repente mudar de lugar?

Não sei!
Só sei que o cansaço
Tomou conta de mim!


Márcio,
Fortaleza, 05 de fevereiro de 2008.

VILA VERÍSSIMO CRESCÊNCIO

Vila
Vida que respira infância
Vila que não cabe numa vida
Mesmo que viva mil anos

Assim é a vida
Num vaivém de avenidas
Que não cabem em uma vila.

Tão pequena é a vila
Assim é o seu nome(Crescêncio)
Tão enormes são os sonhos
Ali plantados e colhidos.

Vila que de tanto sonhar
Tornou-se veríssimo
Veríssimo Crescêncio:
Berço de uma vida inteira.

Vila que não cabe num poema
Mas que cabe n’alma do poeta.
Vila imensa, vida breve
Vila que viverá por toda a vida.


Márcio,
Fortaleza,janeiro de 2008.
Ao amigo Samu no retorno à Vila
DESEJOS

Meu olhar atravessa o tempo
E deita ao seu lado
E invade num átimo
A sua mais íntima nudez.

A nudez da alma.

Quero escrever no teu corpo
O que falta em mim
O calor cálido
Paixão recorrente.
Quero dormir amarrado
Aos seus cabelos
Quero o bafejo de uma brisa pulsante
Atravessando sua pele morena
E invadindo a minha inocência pueril.

Quero sua liberdade vadia
Despejando amor sobre mim.
Quero que a noite não caiba num dia
Que a minha alegria nunca venha sucumbir.
Quero matar minha sede em ti.

Fortaleza, 29 de janeiro de 2008.

REGRESSO DO TEMPO

Sentimentos fluem como um caudaloso rio
Trazendo sopros de memórias
Carregando átomos de uma anunciada explosão
Fragmentos de uma história dissipada.

Mas eis-me aqui, frágil ser
Exalando sussurros, acobertado de saudades...

Sei que a vida passou de repente
E que ando meio apressado, descontente
Procurando saída em sombrios túneis
Que se avistam em cada esquina.

Mas tudo parece que se retrai
E o que antes me era luz
Hoje se apresenta em pesadelos letais.

Fortaleza, 29 de janeiro de 2008.
ENCÔMIO A UM AMIGO POETA

O vento deslizava frio
E comunicativo sobre a noite.
Num bar, indiferente ao sofro divino,
Indiferente a voracidade das mesas,
Vendido ao seu cansaço,
Descansava humilde e tranqüilamente,
O meu amigo poeta.

E eu, solidário e solitário entre as mesas,
Observava o cansaço do meu amigo poeta.

Compreendia a sua invejável cabeça pendida sobre o ombro
Que carregou e suportou o peso daquele infindável dia.

Dormia no centro da noite boêmia,
Ao descaso dos olhares curiosos,
Uma simpática e autêntica figura,
Símbolo da imponência intelectual cearense.
E que poderosamente evocava a sua altivez
Ostentada de cabeça baixa.

Dormia o meu amigo poeta
E dormente
Seguia acordada a população
Em seus ócios e vícios.

O poeta dormia apoiado em suas mãos,
E o povo observava mais o poeta silente
Que o poeta que avidamente escrevia.

Fortaleza, 13 de janeiro de 2008, no Picanha Grill
Para meu amigo Sabóia
ETERNO FEITO AREIA

Hoje, ao ouvir uma voz radiante,
Ouvi o mais profundo silêncio
De um amor sem fim, sobre-humano.

Foi um sopro noturno
Na barulhenta cidade do medo.
Só ouvia o silêncio profundo
De uma voz sem fim.

Diante de algo tão inesperado
Fiquei procurando a voz
Dentro de mim...
Mas o som vinha de tão longe
Tão longe...

Fazia anos que não a ouvia
E falamos de tudo um pouco.
Falamos de um amor único
Que não cabe na Terra,
Mas que cabe dentro de uma lágrima
Que a borracha do tempo
Não ousará tocar
Por ser infinitamente belo
E misterioso.

Falamos de algo intocável
Coisas que são como filhos.
O que seria de tudo
Se não existissem os filhos?
Como seria o fim?

E agora, o que fazer?
Sinto a tua imagem morando em mim.
Mas a vidraça do tempo
Me diz que os anos
Fatalmente sucumbe
E nem sempre reflete
O que tem de refletir.


14 de janeiro de 2008, 1h da manhã
POR TI...

Por ti
Eu revolveria os céus
Secaria os mares
Inundaria tua pele
De amor.

Por ti
Atravessaria o mundo
Colheria uma flor
E “plantaria” bem pertinho...
De ti.
Por ti
Faria coisas impossíveis de fazer!

Por ti
Ficaria a um centímetro...
De um abismo
Dançaria tango
Marcaria um gol de placa
Faria desenhos nas nuvens
Traçaria um arco-íris
De cores multicoloridas
A um palmo de ti.

Por ti
Regeria uma natureza em festa
Ao despertar com o canto
Mavioso dos pássaros

Por ti
Por mim
Viveria eternamente
Preso a ti!

Por ti...
INCOMPREENSÃO

Só:
Eu sinto o mundo
Eu abrigo o mundo
Eu carrego o mundo
Para dentro de mim.

Não mais só
Divido a dor
Busco o amor
Fora de mim.

O que tenho
Não me pertence
Quando me dou a ti
Fico sozinho.

Querer-te já não me apraz
Sua incompreensão
Fez-se rotina
Dizimou sonhos.

Somos peças
De jogos confusos
Fere-me a alma
Saber que contigo
Estou a um século de mim.

Sua miopia
Vê somente o chão
E quando olhamos juntos
Vejo só em você
Incompreensão!

A POÉTICA CIDADE

A cidade dorme
Envolta numa áurea
De sonhos e de poesia
A cidade dorme...
Mas bem cedinho
De mãos dadas com o sol
A cidade calmamente desperta.

E mais um dia
Se constrói
Na cidade aquecida de sonhos
Na cidade povoada de encantos
Uma cidade que não se cansa.

Alísios morenos
Sopram paralelamente
Aos assovios do mar...
Assim caminha
A cidade de luz
Fazendo-se viva no interior
De cada um de nós.
01/11/07
Baião à Moda, às 23h.

CIDADE DO MEDO

A cidade dorme
Uma multidão de luzes vigia a cidade
A lua ofuscada pelo brilho da cidade
Vigia o poeta que descreve a cidade.

Entre uma luz e outra
Miram-se as luzes
Lâminas cortam a cidade
Armas iluminam a cidade de trevas.

Quanto pavor nas esquinas
Quanta dor adormecida
Na calada das favelas?
Quanta dor sentida
Nas avenidas
Nas encruzilhadas
Nos cruzamentos
Nos semáforos
Nos arranha-céus
Que não olham
E nem dormem
Nas favelas.
Márcio, 28 de outubro de 2007.

ÚNICA ESTRELA

Em olhares perdidos
Vislumbro no mar
Uma luz que me acena
Como se quisesse me dizer adeus
Ou simplesmente deixar de brilhar.

Porém em ti
Ó, cintilante estrela,
Não foram com olhares esquivos
Perdidos em vagas
Por onde resvalam
Os sonhos meus.
Nem tampouco no firmamento,
Povoado de estrelas,
Onde escapam aos olhares meus.
Que percebi, em ti, a minha estrela!

A minha única estrela
A maior estrela
Reluzia
Encantos de rara beleza.

Mas eu, inocente,
Não entendia que o cosmo
É dúbio
E que as estrelas
Sensatamente
Cedem seus lugares
Para um sol nascer.
Foi assim que te vi surgir
Pela primeira vez
No finito universo do meu ser!

Fortaleza, 09/06/91
ELIENADAMENTE VIVENDO

Sombrio vivo preso na quimera
Na doce ilusão de um dia te encontrar
Por estas ruas, campos e espaços
Me responde, ó deusa, onde tu estás?

Me responde logo antes que a dor
Torture meu corpo, sufoque minh’alma
Ou me lance num campo de solidão
Para um profundo abismo, no qual só resvala.

Sofro, mas a morte não pode chegar,
Pelo menos até que o dia nasça,
Nesta noite quem sabe eu possa te encontrar
Em quimeras:
Desejos rotulados por minha mente cansada.

Brilha, recôndita estrela celeste,
Desponta, preciso do teu fulgor,
Retorne e me torne incandescido
Pela luz que cintila o amor.
Para Elienai de Sousa(20/09/90)
EU E O MAR

Hoje eu vi o mar.
Não sei se é o mesmo mar que todos vêem.

O mar que eu vi é vasto,
Vasto como o amor,
Mais vasto que a solidão.
Vendo-o, nunca tinha visto então.

Ele é belo
Que nem o verde do seu olhar.
O mar:
É calmo em sua braveza...
E seus braços são enormes...
Eu sou tão pequeno
Diante do mar.

Hoje eu vi o mar
E chorei tantas lágrimas.
E lavei minh’alma.
De corações dados
Nós vimos o mar.
(Fortaleza16/10/96)
AONDE CHEGARÃO NOSSAS VIDAS?

Hoje tentei cruzar as pernas
E elas não estavam lá.
Cruzei então os braços
E deixei o tempo passar.
Vi o tempo passar
Pela janela do meu olhar.
Só não vi da janela ele chegar...

O que fiz destes tantos longos anos?!
Em qual esquina deixei meu último olhar?
Trôpego, dúbio, segui a linha do tempo...
Perdi-me no passo, nas linhas paralelas.

Mas elas só se encontravam no olhar.
Olhei então pra trás
E fiquei ali parado
No meio do tempo
Entre o início e o fim
Do meu dúbio caminhar.

Entre setembro e outubro de 2007
ARCO-ÍRIS
Sofro, corro
Desacelero
Alcanço o chão
Flutuo dentro de mim.

Vislumbro o espaço...
Um arco-íris
Arma seu lindo tapete.
Retenho a visão
Tenho medo de alcançar
Suas cores!

Este mesmo arco-íris
Que um dia
Me encheu de alegrias
Fez-se preto e branco
Dentro de mim.

Triste arco-íris...

08 de outubro de 2007
RIOS DA MINHA VIDA
Depois que as águas do rio passar
E o leito ficar branquinho
Com suas pedras e areias
Eu te vejo, espelhada lá...

Mas...
Eu te vejo onde você não está
Onde você nunca esteve.

E a tua sombra vai estar lá.
E vou cobri-la de beijos...
Cobri-la de desvelos...
Abraçá-la no leito da saudade
E voltar inebriado pelo aroma
Das paragens que margeiam
Este imaginário rio.

Sei que navego neste rio...
Sem destino certo
E sem saber onde vou chegar.

Mas chegarei,
Mesmo sem sair do lugar,
Porque este rio também corre para o már...!

Márcio, 03/10/2007.
REGRESSO DAS LÁGRIMAS

Sentimentos fluem como um caudaloso rio
Enchem a minha manhã de medos
Vozes se apoderam do meu mesquinho mundo
Revelam segredos contundentes e fatais.

Triste manhã, tristes tempos...
Meu corpo pende, minha mente voa...
Filmagens feitas dias atrás.
Parecia que tudo estava traçado.

Mas veio a tarde
E com ela novas esperanças
Acalmaria meu diminuto universo de paz.

Passou, já é noite, já é futuro.
Agora posso olhar pro céu e me encantar
Com um brilho singular de infinitas estrelas.

Fortaleza, 03/08/2007(A Antonio Raimundo)